Há 20 anos Atibaia era destaque nacional na CPI do Narcotráfico

Há 20 anos Atibaia era destaque nacional na CPI do Narcotráfico

Na época investigação levou à prisão de empresários poderosos e bem relacionados na cidade.

 

“A CPI Estadual do Narcotráfico de São Paulo já tem nas mãos um volume de provas suficientes para desmontar a mais importante conexão do tráfico de drogas descoberta no Estado, a chamada Conexão Atibaia. A cidade de Atibaia é uma tranquila estância hidromineral localizada na Serra da Mantiqueira, 90 quilômetros da capital. A descoberta do braço do traficante carioca Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, em Curitiba, foi fundamental para a descoberta da Conexão Atibaia”., assim foi descrita a matéria da Folha de São Paulo, no extinto caderno Campinas em 25 de março de 2000 que colocou Atibaia no foco do noticiário por meses e marcou o pequeno aeroporto da cidade como principal rota da entrada de cocaína no Estado.

 

OPERAÇÃO

Uma operação conjunta da CPI Estadual, da Aeronáutica e das polícias Civil, Militar e Federal resultou em pilhas de documentos que mostram as ramificações nacionais da Conexão Atibaia e a existência de uma quadrilha que agia a partir de hangares e empresas de aviação montados no aeroporto da cidade.

O então deputado estadual Renato Simões (PT-SP) afirmou na época que já estavam confirmadas as ligações da Conexão Atibaia com Fernandinho Beira-Mar; com o mega-traficante de cocaína do Mato Grosso, Waldemar Marchezan e ainda com quadrilhas de assaltantes e traficantes do Paraná, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Para o deputado Simões, esta era a primeira grande conexão do narcotráfico que começava a cair em São Paulo. ‘‘As conexões do narcotráfico feitas por terra usualmente nos levam ao varejo, ao pequeno traficante. Esta grande conexão aérea nos leva aos traficantes realmente poderosos, aqueles que transitam nos altos escalões econômicos da sociedade’’, afirmou.

As implicações da Conexão Atibaia vinham sendo investigadas em sigilo pela CPI até quando quatro dos principais envolvidos – José Gomes Filho, Odarício

Quirino Ribeiro Neto e seu sogro Abrão Jacó, de Atibaia e José Ferreira da Silva, de São Paulo – deveriam depor em sessão reservada na Assembleia Legislativa paulista.

Como nenhum deles apareceu, a Justiça expediu mandado de prisão para três dos envolvidos e mandado judicial de busca e apreensão em suas casas e em dois hangares do Aeroclube de Atibaia. Um dos hangares pertencia a Ribeiro Neto e o outro a Gomes Filho, na época empresários poderosos e bem relacionados na cidade. Nenhum dos procurados foi encontrado pela polícia na ocasião.

No hangar da empresa União Sistemas e Serviços, de propriedade de Ribeiro Neto, foi localizado o avião de prefixo PT-SX, envolvido em uma ocorrência até hoje não explicada em Varginha, Minas Gerais. O avião foi abandonado numa estrada, por dois meses. A polícia chegou e não encontrou nem o piloto e nem a carga. Foram apreendidas ainda, no hangar e na casa de Ribeiro Neto, agendas,

canhotos de talões de cheques e dezenas de documentos de compra e venda de

aeronaves.

No escritório de Gomes também foram apreendidas pilhas de documentos e quatro caixas de munição de grosso calibre, utilizadas em armamento exclusivo das forças armadas. Quatro cheques, que totalizavam mais de R$ 30 mil, emitidos por Ribeiro Neto, também comprovam segundo os deputados da CPI, a ligação comercial entre os dois envolvidos.

Análise preliminar dos documentos revelaram um alto volume de movimentação financeira, com depósitos de mais de US$ 750 mil em favor de pessoas na época não conhecidas pela CPI.

Segundo o então deputado estadual deputado Dimas Ramalho (PPS-SP) que integrava a CPI, estes valores eram claramente ‘‘incompatíveis com empresas de hangaragem e manutenção de pequenos aviões, como estas’’.

Os mais de vinte aviões que se encontravam nos dois hangares começaram a ser checados e vistoriados por especialistas da aeronáutica esta semana. A CPI queria saber a procedência de todos eles e conhecer todos os planos de vôo realizados nos últimos anos.

 

CONDENAÇÃO

Em novembro de 2001 o juiz Carlos Eduardo Borges Santacini condenou a 28 anos de prisão Odarício Quirino Ribeiro Neto e José Gomes Filho, acusados de comandar a chamada Conexão Atibaia, investigada e denunciada pela CPI Estadual do Narcotráfico, encerrada em maio daquele ano na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Além de Ribeiro Neto e Gomes Filho, foram condenados a 10 anos de prisão os pilotos José Roberto Salomão, Odair da Conceição Correia e José Ricardo Nogueira Braga, acusados de atuar no transporte de drogas para a conexão.

Outros dois envolvidos, Carlos Parreira, cunhado de Ribeiro Neto, e Abrão Jacob, sogro de José Gomes Filho, foram condenados à pena mínima de seis anos.

O juiz determinou ainda o confisco de 19 aviões que pertenciam a Gomes Filho e Ribeiro Neto, com base na legislação de confisco de propriedades de narcotraficantes.

Os aviões que antes levavam cargas de cocaína, passaram a ser utilizados por organismos policiais no combate ao tráfico de drogas.

Após diversas diligências a sentença final entendeu que a Conexão Atibaia funcionava a partir de hangares instalados no aeroporto da cidade e, segundo investigações da CPI, fornecia aviões e dava sustentação logística para diversas quadrilhas de narcotraficantes e assaltantes de bancos.

De acordo com o relator da CPI, Renato Simões (PT), as condenações confirmam a tese apresentada no relatório final da comissão. “Só foi possível desmontar a conexão porque a CPI funcionou como catalizadora de informações obtidas pelas polícias Civil e Federal, pelo Ministério Público e pela Receita Federal em vários Estados”, afirmou ele.

“Quando cruzamos as informações, descobrimos a extensão do esquema. Para a CPI, o combate ao narcotráfico só será possível se houver a integração de todas as instituições.”

 

 

 

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